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O diagnóstico. Primeiro ela gritou, gemeu, e ninguém se importou. E por alguns dias ela continuou com seu choro agonizante Sem qualquer sucesso se calou.  E quando olho para ela percebo que está toda molhada. Eu a enxugo e limpo com todo o cuidado. Passado algum tempo ela está novamente molhada. Fez xixi de novo? Sim. Não dava mais para esperar. Estava com incontinência urinária. Ontem, após a consulta, veio o resultado: entupimento de veia.   Felizmente o médico... ops... acho que me empolguei. O técnico virá amanhã instalar o kit com um novo dreno, e assim dar uma sobrevida à minha boa e velha  geladeira. ----------------------------------------------------------------------------

A enfermeira e a “Mulher dos Gatos”.

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Havia uma enfermeira que morava numa rua sem saída. Vestida em um uniforme impecavelmente limpo, branco como seu sorriso largo, ela saía todos os dias de madrugada para trabalhar num grande hospital. Havia uma mulher que morava numa outra rua, que não era sem saída, mas bem próxima desta. Todos a conheciam como a “Mulher dos Gatos”. A “Mulher dos Gatos” perambulava pelas ruas, arqueada com o peso das sacolas que carregava em suas mãos. Às vezes ela caminhava apressada, noutras ia bem devagar. Olhava por todos os cantos como se procurasse por algo ou alguém. Falava sozinha e fazia ruídos. Uma mulher estranha. Assustadora para as crianças menores, pois havia todo um folclore sobre a vida desta mulher. O que ela fazia afinal? Quem era ela? Seria uma bruxa?   A imaginação da criançada na rua sem saída e  vizinhança fervilhava. Os menores tinham medo da “Mulher dos Gatos”, pois sempre que desobedeciam à suas mães elas diziam: - Se fizer isso de novo eu vou pedir pra “Mulher d

A minha mãe não morreu.

Diz a sabedoria popular que filhos são como os dedos das mãos. Um é diferente do outro.  E eu digo que isto também é válido para as mães. Todos nós podemos encher a boca e dizer que temos a melhor mãe do mundo. Porque temos. Cada mãe é um ser único. E o amor que a mãe sente por seus filhos também é especial e único. Hoje, 26 de setembro, minha mãe completa 86 anos. Teve onze filhos, vinte e três netos e bisnetos a perder de vista. E somos todos diferentes. Cada qual com sua singularidade. Quando soube da morte de minha mãe, o chão abriu sob os meus pés. Meus muros ruíram e desabei num pranto enlouquecido de tanta dor. Recomposta, fui ao hospital ter com os outros irmãos. E lá mergulhei num triste silêncio anestesiador. Durante o funeral aproximei-me de seu caixão no máximo umas três vezes.  Minhas irmãs se revezavam o tempo todo em volta dela. Entoavam cânticos e orações, mas eu... Eu preferi ficar sentada numa mureta olhando as árvores e flores do lugar. Só me aproximei del

Esperança

Depois de um longo dia de trabalho ligo a TV para saber as boas novas. E o que vejo?  Jovens saudáveis e bonitos contando como atearam fogo numa mulher  só porque ela tinha apenas míseros trinta reais. A vida desta mulher custou trinta reais. Em seguida, não só ouço o jornalista narrar como assisto ao “Big Brother” da vida real aonde um homem vai até uma pizzaria reclamar com o proprietário por causa de uma entrega de pizza. O proprietário saca uma arma e o ameaça. Tudo isso acontece na frente das duas filhas do cliente descontente. Essa cena já seria chocante o suficiente, mas não! Ele atira, de novo e de novo. E uma das filhas vai parar na UTI com uma bala cravada na cabeça. A vida desta menina custou o equivalente a uma pizza. A ignorância de dois homens. E o apresentador muda de tema e penso: - Espero que seja algo mais leve. Então ele informa que grande parte das casas e apartamentos do projeto “Minha casa minha vida.” está com problemas de rachaduras, infiltração, infraestrutu

A Dona Aranha subiu pela parede. Veio a Helo Helena e a derrubou...

Na segunda-feira, meio dormindo, meio acordada fui ao canil cuidar dos cães quando entro apressadamente e minha cabeça rompe uma enorme teia de aranha. Desesperadamente começo a pular (não sei bem o porquê) e bater minhas mãos sobre a cabeça temendo que alguma aranha pudesse estar sobre ela. Os “ The Super Dogs ” me olhavam com carinha de interrogação. Provavelmente pensaram que eu estava com pulgas. Olhei para cima e avistei sob o telhado uma aranha tricolor (amarela, preta e transparente) de aproximadamente uns seis centímetros. Fiquei furiosa. Como é que a aranha foi tecer uma teia justamente na passagem? Será que ela não percebe que atrapalha? Furiosa, peguei uma vassoura e tirei toda a teia enquanto a aranha observava calmamente tudo lá do alto. Cuidei dos cães, que a esta altura estavam sentados assistindo a cena hilária e voltei para a minha rotina. No dia seguinte eu já havia esquecido o episódio da teia e novamente minha cabeça foi de encontro a ela, e eu ime

Vai de seminovo ou prefere o trem azul?

É incrível como somos inundados com palavras e frases que não refletem a verdade. Ao invés disso nos ofertam frases maquiadas e com roupas de festa, seja na mídia impressa, TV ou mídias sociais. Tem sempre um criativo de plantão usando uma frase ou palavra de efeito para tentar impressionar e vender seja o conceito, o produto ou serviço. Quem já não viu ou ouviu: “Compre aqui seu seminovo!” - ou “Aceitamos seu usado como parte do pagamento!”.  O interessante é que eles te vendem um veículo seminovo e você entrega um veículo usado.  Uma concessionária jamais te venderia um veículo usado, pois só trabalha com seminovos. Ai de você se achar que um carro seminovo é o mesmo que usado. Já viram anúncios de imóveis que ficam em condomínios localizados nas cidades que circundam as capitais? “Tenha qualidade de vida morando no condomínio Paz e Sossego, a quinze minutos de São Paulo”.   Só não explicaram que esses quinze minutos são de helicóptero, pois de carro, se tudo correr bem

Carnaval! Todo dia é tudo igual. Carnaval...

Mais uma vez, carnaval. E como foram nos anos anteriores, tudo igual. Um evento onde no calendário só aparece marcado como feriado a terça-feira, mas que na realidade tudo para ou vai mais devagar a partir da sexta-feira que antecede a terça-feira “gorda” ou a “quarta-feira santa”. E põe devagar nisso, pois o povo que vai viajar no carnaval já entra no engarrafamento na porta de casa. Saiu com o carro da garagem, parou. Viagem que duraria uma hora e meia vira quatro, cinco, seis, até sete horas de viagem. Justamente o paulistano, um sujeito cansado de passar boa parte da vida preso dentro de um veículo em meio a um engarrafamento, não vê a hora de chegar o carnaval para botar o pé na estrada e fugir... Do engarrafamento. E no carro vai pai, mãe, mulher,  filhos, noras, genros, netos, cão, gato, fralda geriátrica e paciência.  Muita paciência, senão é melhor nem sair de casa. Há muitos e muitos anos, quando minhas moças ainda eram apenas menininhas loirinhas de olhinhos